Faces

Anselmo Ralph by André Banza

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Depois de já ter realizado programas de televisão como ‘Os Contemporâneos’, ‘O Último a Sair’ ou as ‘7 Maravilhas Naturais de Angola’, André Banza estreia-se no grande ecrã com ‘Vontade de Vencer’, o biopic de Anselmo Ralph.


O documentário sempre foi um género presente na sua vida, mas nunca pensou que algum dia iria chegar ao cinema, e muito menos que a sua estreia como realizador de documentário seria marcada pela biografia de um dos maiores fenómenos da música angolana.


A DIVO falou com o realizador sobre o filme, que chega aos cinemas no início de Setembro (dia 3 a Portugal, e dia 4 a Angola).


Este documentário marca a tua estreia como realizador de documentário para cinema. Como é que surgiu esta oportunidade?


Comecei a minha carreira como realizador com ficção de comédia, com ‘Os Contemporâneos’ e ‘O Último a Sair’, onde era co-realizador, e desde aí tenho estado sempre a trabalhar em televisão. O documentário esteve sempre presente, e sempre foi o que mais gostei de fazer, mas nunca pensei chegar um dia ao cinema ou que a minha primeira longa metragem fosse documental. Nunca tive essa aspiração, mas sempre me interessei muito por contar histórias e retratar a vida real.


E porquê o Anselmo e não outro artista?


[A escolha do] Anselmo teve muito a ver com o momento da carreira que ele estava a viver em Angola, em Portugal e no resto da Europa. Esse foi o ponto de partida. Com o tempo, acabámos por perceber que os sítios onde viveu e cresceu tiveram muito peso na carreira dele. Por exemplo, o período em que viveu nos Estados Unidos influencia muito a música que ele faz, pelo que ouvia quando era mais novo. Ele já não voltava lá há nove anos, e resolvemos levá-lo, acabando por descobrir coisas como o episódio do 11 de Setembro [Anselmo e a sua irmã gémea, Celma Cordeiro, estavam na área envolvente às Torres Gémeas no dia do atentado]. Foi quase uma viagem no tempo para ele. Mas o que nos interessou, ao início, foi perceber porque é que a música dele é diferente e porque é que o Anselmo se tornou neste fenómeno e chegou tão longe.


Este documentário dá uma visão muito pessoal do Anselmo, mostra um lado que pouca gente conhece. Isto foi uma coisa pensada inicialmente ou proporcionou-se durante a rodagem?


O Anselmo estava constantemente em tournée e foi muito difícil combinar algo que ele quisesse mesmo fazer, para nos falar sobre as suas origens e a sua história. Quando falámos sobre isso, ele contou-nos sobre o período em que viveu nos EUA, quando teve de trabalhar e fazer pela vida. Foi nesta altura que ele encontrou a fé, que se ligou à igreja e começou a cantar no coro. Houve muita coisa que aconteceu neste período que definiu o Anselmo que conhecemos hoje, porque foi onde começou a formação dele como homem e cantor também. Passou por muita coisa que as pessoas desconhecem. Foi vítima de bullying, teve, e continua a ter, vários problemas de saúde, mas encontrou força para continuar e deu uma reviravolta.


Não estava à espera que o filme fosse tão bem aceite, porque não é habitual ver filmes deste género com artistas angolanos.


O filme tem cerca de duas horas e, durante esse tempo, vemos vários depoimentos de familiares e amigos, mas com o Anselmo só há uma entrevista informal, que liga todo o documentário. Como é que foi possível criar este ritmo?


Nunca tive intenção de fazer uma entrevista formal com o Anselmo, queria acompanhá-lo na sua vida sem que ele se apercebesse da equipa atrás dele. A minha intenção era captar o Anselmo sempre em movimento, porque ele nunca está parado, e cruzar os momentos em que ele fala sobre ele, sobre coisas mais pessoais, sobre a família ou sobre aquilo que ele quer fazer e o que pretende. Ao início, ainda pensei em fazer uma entrevista num quarto de hotel, porque é onde ele passa mais tempo, mas não há um lugar que seja realmente ‘o lugar do Anselmo’, porque ele está sempre em todo o lado, é quase omnipresente! Demorou algum tempo até ficar assim, descontraído, porque é muito tímido e custou-lhe a esquecer as câmaras, as luzes, os microfones… Com as restantes pessoas, optámos por esse estilo mais convencional, para ser mais confortável para elas também.


Mas há uma ligação muito clara entre o que ele vai narrando e as entrevistas dos depoimentos, especialmente na entrevista com o pai dele. Isto foi uma feliz coincidência ou os depoimentos foram gravados depois de terem as declarações do Anselmo?


A entrevista com o pai dele aconteceu mais no final do processo e, obviamente, já tínhamos muita informação. Ao início, tínhamos pouca informação mas, depois de falarmos com o Anselmo e com as irmãs, percebemos que o pai dele teve uma grande influência na carreira de cantor e no que ele conseguiu atingir. Quando falámos com ele, surgiu tudo muito naturalmente. Ainda tinha muito presente, como é que ele era e o que aconteceu nos EUA. O Anselmo é muito mais esquecido que o pai e deixou muitos pormenores de fora! O pai dele foi fundamental no seu percurso, tem uma noção muito grande de ‘tu queres isto? Então vai atrás do teu sonho!’, tem uma visão muito positiva e percebemos que ele foi o grande motivador da carreira do filho.











Num ano de gravações, com certeza houve alguns episódios mais caricatos. Que episódio é que têm mais presente deste período de gravações?


Um dos episódios foi o da viagem a Benguela [tinham de apanhar um voo de ligação entre Luanda e Benguela que não poderia ser realizado porque o aeroporto de Benguela estaria fechado à hora de chegada]. Quando conseguimos lá chegar, o Anselmo estava desesperado, com medo que não tivéssemos chegado e estava tudo à nossa espera para começar o concerto. Outro episódio foi já nos EUA, em que estávamos em Atlanta e, subitamente, o Anselmo e o [Nelson] Klassik resolveram ir para o estúdio de Nova Iorque. Então apanhámos um avião para Filadélfia, às 8h da manhã estávamos numa carrinha a ir para Nova Iorque, almoçámos, fomos para o estúdio e só saímos às 9h do dia seguinte. Estávamos todos destruídos! Foi aí que percebemos que eles não têm limites, querem mesmo é fazer música! Fizeram aquela música nesse mesmo dia e no dia seguinte estava tudo tranquilo. Foram dois dias intensos de gravações, sem sequer parar para comer.


Há pouco falavas das dificuldades com que se depararam durante as gravações, sobretudo com a agenda do Anselmo. Quais é que foram as principais dificuldades?


A principal dificuldade foi conciliar a nossa logística com o ritmo do Anselmo. Eu queria que estivéssemos no mesmo ritmo que ele e que toda a gente sentisse mais ou menos o que estava a acontecer com ele. Para filmarmos exactamente o que Anselmo estava a fazer, tínhamos de preparar toda a logística com muito pouco tempo de antecedência. Coisas como a viagem aos Estados Unidos ou filmar dentro de um avião, que pareciam fáceis, foram as mais difíceis. O Anselmo acabou por estar muito à vontade. Dizia que era um pequeno ‘Big Brother’, por andar sempre com um pequeno microfone. E era essa a imagem que eu queria passar: de que as coisas [no filme] acontecem exactamente à velocidade real. Filmámos tudo – e durante muitas horas! – e depois retirámos só aquilo que nos interessava.


O que nos interessou, ao início, foi perceber porque é que a música dele é diferente e porque é que o Anselmo se tornou neste fenómeno e chegou tão longe.


Já houve duas antestreias do filme, uma em Luanda e outra em Faro. Como é que o Anselmo reagiu ao produto final?


O Anselmo não estava à espera. Acho que ficou muito contente, pelo menos pareceu pela reacção dele. Disse-me que parecia ‘um tipo mesmo internacional’! Reagiu muito bem, tal como o pai e a irmã dele. Essa era a intenção principal, que eles gostassem do filme porque é a história deles que está a ser contada. A reacção do público em Luanda também foi muito engraçada, reagiu muito bem. Não estava à espera que o filme fosse tão bem aceite, porque não é habitual ver filmes deste género com artistas angolanos.


Os fundos das antestreias reverteram para instituições de solidariedade. Quais?


Os da antestreia em Luanda reverteram para o Projecto Social Pequena Semente e os de Faro reverteram para o Refúgio Aboim Ascensão.


Como é que surgiu esta ideia de apoiar instituições?


Tem muito a ver com a mensagem positiva do filme, de ultrapassar obstáculos. A própria história do Anselmo tem muito a ver com isso, ter objectivos, lutar para alcançá-los e chegar sempre mais longe. E ele é, de certa forma, um vencedor. Também gosta de se associar a estas causas e achou esta ideia [que partiu da distribuidora do filme] excelente, apesar de não ter sido pensado quando o estávamos a fazer.




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