Hoje recordámos
uma conversa entre a DIVO e um dos maiores nomes da cozinha em Angola. Falámos, claro, de
Napoleão Valente, um jovem de
24 anos que já esteve à frente do
restaurante Rio Luanda, faz os menus de executiva para os
voos TAP Luanda-Lisboa e leva a gastronomia angolana para a alta cozinha.
Se vai de férias a Angola passar uns tempos com a família, há uma coisa que Napoleão Valente sabe que vai ter de fazer várias vezes ao dia: pão de ló. E não é só para os tios com quem vive e que o criaram. É para todas as vizinhas que aparecem com alguns ovos e já de olho nos pratos que só ele consegue fazer daquela maneira.
“Assim que chego metem-me da cozinha. É desde o pão ao cabrito, pedem-me tudo. E quando eu decidi tirar este curso não havia a azáfama que há hoje em dia em torno da gastronomia. Demoraram a aceitar, diziam que era curso para mulheres”
Foi como chef principal do restaurante Rio Luanda, em Lisboa, que se tornou conceituado na área da alta gastronomia. E fez dessa mistura de referências do restaurante uma oportunidade para pôr no mesmo prato os temperos que sempre conheceu de Angola, sabores brasileiros e comida portuguesa. “Era um tripé muito interessante de fusão com o epicentro em Lisboa, mas depois achei que já estava na altura de procurar outros projectos.”
E não interessa se já domina esta fusão e se foi em Lisboa que aprendeu a cozinhar de forma profissional, na Escola de Turismo e Hotelaria e a trabalhar em vários restaurantes de comida portuguesa.
“Agora o meu estilo é mais de alta cozinha, com mais atenção ao produto. E adoro a comida típica angolana, só que raramente pode ser apresenta assim. Um bom calulu tem de ser aquele prato pesado, cheio.”

Isso não o impede de procurar soluções para aquilo que realmente quer fazer – arranjar uma forma de representar a comida do seu país de origem num universo mais gourmet. É já isso que está a delinear no novo desafio que aceitou da TAP, em Novembro passado, onde é o chef responsável pelos menus de executiva nos voos Luanda-Lisboa:
“Preparo os menus, mando para a empresa de catering e de dois em dois meses tenho de ir a Angola fazer o controlo de qualidade.”
Tem apenas 24 anos, mas não é difícil perceber que já se tenha afirmado – “Nesta área há sempre trabalho para quem o saiba fazer bem.”
Desde o 9.º anos, quando ainda andava a falhar centímetros nas esquadrias das aulas de Educação Visual, que dizia que ia ser cozinheiro.
Uma vontade que combinava com a vontade que os tios tinham de o ver num curso prático. Depois foi uma questão de persistência. Muita persistência: “Gosto da adrenalina, da criatividade desta profissão. Mas não posso pensar em natais ou em fins-de-semana e perco amigos com os horários estranhos dos turnos. Tenho primos a viver em Londres que vão sempre a Angola nas férias e a minha família já nem me liga a saber se vou. Já sabem que só vou se puder.”