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Enigma da medina

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Medina designa o centro das cidades no Magreb, o casco urbano fortificado. Do lado de dentro das muralhas, um emaranhado de ruas estreitas, onde se desenrola um enredo que não é só arquitectónico: é social e religioso, cultural.


A medina de Fez, por onde circulam centenas de milhares de pessoas, é tida como a maior área urbana do mundo sem automóveis. Só podemos contar com o nosso corpo para esta prova de marcha olímpica que é percorrer o maior labirinto do mundo, património mundial desde 1981.


PÁTIO É OASIS


É uma cidade que vive de dia, caindo a noite, tudo recolhe e fecha. A movida aqui é espiritual e os pontos de interesse estão relacionados com o islamismo: mesquitas e madraças – as escolas corânicas. Fez é um bastião das tradições e do conhecimento, na Mesquita Al Karueein, construída no ano 859, funcionou durante séculos uma das mais antigas e prestigiadas universidades do Ocidente.


Mais que noutras cidades, andar umas horas com um guia é necessário, como introdução para descodificar alguns enigmas do labirinto urbano e social, depois, é seguir por conta e risco atrás do movimento encantatório dos milhares que caminham pelas ruas.


No meio da densa malha urbana, recatados do lado de dentro das paredes altas que comprimem as ruas, existem inúmeros riads, edifícios de vários andares com pátio interior e terraço. Muitos transformaram-se em pequenos hotéis e o preço destes palácios quadruplicou em 10 anos. É a aura e o prestígio da cidade a funcionarem como atractivos para o investimento imobiliário.


O conforto do pátio e aposentos no riad recompensam a dureza do terreno que se experimenta na medina. No terraço, podemos finalmente esticar a vista, observar a cidade de cima e tentar entender o novelo em que estamos metidos.


WIFI MA NON TROPPO


Os ofícios e comércios estão organizados por áreas: cabedal, tecidos, comida, metais, babuchas, elixires. Sem carros nem camiões, entram e saem todos os dias toneladas de mercadorias deste grande centro de comércio da região. Mercadorias, pessoas, notícias… Pelas artérias da medina tudo flui, a pé.


A vida não motorizada e a forma tradicional de curtir e tingir as peles faz-nos parecer estar num outro século. Mas é ilusão: se existe hoje, é contemporâneo, e ao voltar à base, o telemóvel apita notificações, ligando-se à rede wifi, disponível na mais simples pensão ou no mais sofisticado riad.


A marcha da globalização entrou na medina de Fez, mas devagar e em dose curta. A junk food é local e não há franchisings de nada, nem haverá tão cedo. Há sumo de romã e hamburger de camelo.


Também há vida fora da medina, o Museu Dar Batha merece visita, sobretudo pelo belíssimo jardim. Mas em Fez, como nas histórias, o tesouro está dentro das muralhas.


As ruas Taala Kabira e Taala Seghira são as grandes referências para uma pessoa se reorientar, mas se não nos perdermos na medina de Fez, é porque ainda não andámos o suficiente pelas vielas, pelas passagens escuras por dentro de prédios, com o cheiro fétido das peles e o perfume do almíscar, túneis, arcos, becos sem saída.


De tanto divagar por caminhos com todas as configurações possíveis e improváveis, reconhecemos alguns traços vistos noutros lugares. Umas ruas de Fez parecem ruas de Jaisalmer na Índia, outras parecem Veneza, outras parecem Alfama, em Lisboa.


Talvez sejam essas ruas de Alfama, Veneza e Jaisalmer que se parecem com as ruas de Fez.