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Person of Interest #2: Marlon James

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Depois de Thelma Golden, a rubrica Person of Interest de hoje é dedicada Marlon James, professor, escritor e vencedor do The Man Booker Prize 2015 com o livro ‘A Brief History of Seven Killings’ [Breve História de Sete Mortes].


Marlon James é um excelente exemplo da garra Jamaicana. O seu primeiro livro foi rejeitado por 70 editoras e, hoje, é um dos vencedores, e o primeiro jamaicano, de um dos prémios mais importantes da literatura ficcional – a luta pela sua paixão, a perseverança na escrita, as dificuldades e todos os obstáculos que passou até hoje, fazem de Marlon James um homem DIVO.


Mas quem é Marlon James?


Nasceu em Portmore, um subúrbio da cidade de Kingston, e é filho de militantes da polícia Jamaicana que, desde cedo, fizeram questão de lhe incutir o espirito da leitura.


A mãe era detective numa esquadra local e foi quem lhe ofereceu o seu primeiro livro de prosa – um coleção de história de O. Henry. O pai, já falecido, era advogado e foi o responsável por lhe passar o amor por Shakespeare. No seu discurso de agradecimento ao MBP, James relembrou a infância feliz que passou ao lado do pai, recordando a competição saudável que partilhava com o pai: quem era capaz de recitar o mais longo monólogo de Shakespeare.


Mas a infância de James não foi fácil, como contou numa carta aberta que escreveu para a Revista do The New York Times.



“Passei sete anos numa escola só para rapazes. Eram cerca de 2000 adolescentes de uniforme caqui à espera de caçar os que não se encaixavam. Perseguiam quem não gostavam, assaltavam os refeitórios e os balneários. A única forma que encontrei de me proteger era amaldiçoando os outros, trancando a minha língua por trás dos dentes e desenhando miúdas em 3D nas aulas de arte para deleito dos outros”


A verdade é que nem assim James se encaixou. Era chamado de “menino extravagante” e acabou, também, por ser colocado de lado. Para proteger o irmão mais velho, Marlon fingia que não se relacionavam. Em casa, Marlon refugiava-se nos livros – Charles Dickens, Mark Twain ou as bandas desenhadas do Professor X (Charles Francis Xavier) foram os seus portos-seguros. Mas, por vezes, a dor não atenuava.


“Um dia depois de escola, em vez de ir para casa, andei quilómetros até ao Porto Kingston Harbor. Parei à beira do cais e pensei que na próxima vez iria apenas continuar a andar”.


Fora de casa, longe dos livros e da sua família, a infância de Marlon foi um pesadelo. Mas, findo o colégio, entrou na University of the West Indies e a sua vida mudou. Fez amigos e sentiu, pela primeira vez, que pertencia em algum lugar.


“Conheci pessoas que parecia que tinham estado o verão todo há minha espera!”


Em 1991, licenciou-se em Línguas e Literaturas.


A Homossexualidade e a sua, consequente, saída da Jamaica


Quando saiu da faculdade, conseguiu o seu primeiro emprego numa agência de publicidade e, como conta numa entrevista recente, o pesadelo da infância voltou.








“O meu patrão perguntava-me porque é que as minhas revistas tinham sempre homens na capa. Porque que raio é que eu comprava a GQ e onde é que estava a Playboy?”


Na altura, Marlon Jason não assimiu a sua sexualidade mas garante que muita gente desconfiava. Já desesperado, decidiu ir à igreja, a convite de um colega de trabalho canadense (que mais tarde se tornou seu assistente), e decidiu tornar-se num grande devoto de Jesus, apesar de tudo não passar de uma máscara, mas sim de um escape.


“Eu sabia que se me vissem como católico praticante, adorador devoto do Senhor, ninguém iria perguntar:’Porque é que ele não tem namorada?'”, desabafa numa entrevista à Vogue


Na altura, que começou a ler o livro “Shame” do escritor inglês Salman Rushdie, apesar de o cobrir com uma capa da bíblia em couro. James ficou fascinado a escrita audaciosa do britânico e recomeçou a escrever, sempre em segredo. Em 2005, com 34 anos, publicou o seu primeiro livro ‘John Crow’s Devil’ e partiu numa tour para promover a obra nos Estados Unidos, uma forma de fugir à realidade cruel que vivia.


“Cada vez que eu queria segurar as mãos do meu parceiro, tinha que me certificar que todas as portas estavam fechadas!”


John Crow’s Devil e as 80 rejeições


A verdade é que a sua primeira obra não foi bem aceite. Antes de ser finalmente publicado em 2005, o livro foi rejeitado por cerca de 80 editoras. A situação chegou ao extremo de, tanto editores como agentes, lhe sugerirem que apagasse todas as cópias da história.


“Não é um bocado exagerado? Eu apenas pensei, bem, se mais de 70 pessoas não acham o livro digno, então é claro que ele não poderia ser bom. [Mas] às vezes a maioria pode significar que as pessoas erradas estão todas do mesmo lado”, conta numa entrevista à FirstFT .


Durante um tempo, James pensou que estava a escrever histórias que as pessoas não queriam ler. Acabou por apagar o manuscrito, e chegou a ir a casa de amigos apagar directamente as cópias dos seus e-mails.


Mais tarde, a escritora francesa Kaylie Jones mostrou interesse em lê-lo, e James, apesar de surpreendido, procurou, por todo o lado, por uma cópia que tenha escapado à “limpeza total”. Encontrou-a, num antigo iMac que não usava há anos, e ficou com a certeza de que a vida dá muitas voltas.


A vida dá muitas voltas: ‘A Brief History of Seven Killing’ e o The Man Book Prize


Tornou-se o primeiro autor jamaicano, na história, a receber o The Man Booker Prize com o livro ‘A Brief History of Seven Killing’ que se debruça, numa narrativa brilhante, sobre a tentativa de assassinato de Bob Marley em 1976.


A linguagem violenta sobressai na narrativa e até Michael Wood, presidente do Júri do The Man Booker Prize, chegou a confessar que a sua mãe não foi além das primeiras páginas por causa das asneiras. Mas Marlon James considera-a importante:


“Escrevi sobre uma imensidão de violência, não estava a escrever sobre pessoas boas. Acho que a história pedia uma linguagem mais rebuscada.”, confessa ao The Guardian.


Em Junho, a HBO comprou os direitos e anunciou que a obra ‘The Brief History of Seven Killings’ vai ser adaptada ao pequeno ecrã , numa série ainda sem data de estreia. Marlon Jason vai trabalhar diretamente nessa adaptação ao lado do roteirista Eric Roth, que já venceu inúmeros Óscares com filmes como Forrest Gump, Benjamin Button ou Munique.


Embora, na Jamaica, James ser celebrado como o primeiro vencedor do The Man Book Prize, a sua relação com a ilha é desconfortável graças à cultura homofóbica de que foi alvo. Recentemente, James confessou à Times que não tem palavras para a libertação que encontrou nos EUA em relação à sua escolha sexual.


Actualmente, Marlon James vive em Minnesota, nos EUA, e além de escritor, é professor de Inglês e Escrita Criativa no Macalester College.


Há poucos dias, anunciou que o seu novo livro ‘Balck Leopard, Red Wolf’, titulo provisório, será uma espécie de ‘Guerra dos Tronos’, passada no continente africano.


“Estava enjoado e cansado de discutir se deveria haver um hobbit negro em O Senhor dos Anéis [de Tolkien]”, confessou à Times.


De autor rejeitado a vencedor do respeitado The Man Book Prize, Marlon James é um homem DIVO.




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