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Kizomba na Europa
A dança do suja pé está a tomar conta da Europa e os angolanos se calhar não sabem disso.
| André Soares 0 ComentáriosWarning: Use of undefined constant HTTP_HOST - assumed 'HTTP_HOST' (this will throw an Error in a future version of PHP) in /home/u735550140/domains/divomagazine.com/public_html/wp-content/themes/braxton/single.php on line 134
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Imagine uma dança, imagine uma música, que o faz sair do stress, que torna a noite mais suave, e que tem sempre, sempre um final feliz. A Kizomba está a tomar conta da Europa.
Cidades como Londres, Paris, Madrid, Lisboa e outras mais como Rovinj, na Croácia, Budapeste, na Hungria, Trieste, em Itália, cidades apaixonadas pela cultura da festa, pelos sons de Anselmo Ralph, C4 Pedro, Nelson Freitas, Pérola.
A história começa assim. Um dia, há seis anos, Paulo Magalhães teve a ideia de criar o AfricAdançar e com ele a primeira edição do Campeonato Internacional de Kizomba, em Lisboa. A partir daí, a Europa foi tomada pela febre da Kizomba. Antigos divulgadores do estilo de dança, do “risca o salão”, como o Mestre Petchú e Zé Barbosa, juntaram-se ao AfricAdançar, formataram passos e deram-lhes nomes em inglês. Afinal, eles sabiam que isto ia ser viral, sobretudo com a divulgação de vídeos nas redes sociais, acabadinhas de aparecer.
E depois foi sempre a subir, sempre, sempre e de uma maneira, que hoje há congressos um pouco por todo lado. Promovidos de forma hollywoodesca, as sensações, as emoções de uma dança, do dançar agarradinho.
E depois há outra história, a ‘salsa’ já estava gasta e os “salseros” precisavam de algo mais. A Kizomba passava de forma curta, entre as ‘salsas’ e as bachatas, mas depois do AfricAdançar foi-se autonomizando, ganhando força. A partir de 2009, a pista de dança passou a ter só Kizombas. As discotecas estavam convencidas e, desde Roterdão até Paris, os cartazes mudaram de protagonistas. Os angolanos, caboverdianos e guineenses da diáspora, não tiveram mãos a medir com requisições, oficinas de aprendizagem e depois os congressos. Hoje a Kizomba tem uma rede de promotores e divulgadores que faz inveja.
E o que os angolanos se calhar não sabem, é que uma data de húngaros dançam com suecas e querem ir a Angola conhecer, ver como é que se dança no Maiombe e nas discotecas da Ilha de Luanda, como se vive a festa de quintal. A identidade angolana está a viajar por toda a Europa.
A história continua assim movida pelo interesse de centenas de pessoas em toda a Europa, que querem saber como se dança Kizomba, como se executam os passos básicos e como se curte ao som do compasso ternário do sintetizador. Numa breve ida à wikipédia, lê-se: “Kizomba é um género musical e de dança originário de Angola, erradamente confundido com o Zouk, devido ao ritmo ser muito semelhante”. Aqui começam as confusões e as aparências com outras danças e estilos de dança social africanos.
Aqui começam também outras histórias. A Kizomba teve um começo nos emaranhados anos 60, em Angola, nas festas de quintal, nas farras. E era do povo, da casa, do bairro, do conjunto de muitas influências.
Chegou à Europa e, para passar, para ter aceitação, teve de se criar regras. Mas nos finais dos anos 80 os Kasav foram aos Coqueiros e os angolanos absorveram os sons das Antilhas e do vizinho Congo, e a Kizomba miscigenou-se. Tem influências de Semba, Massemba, Zouk, Kilapanga e Rebita. Som e ritmos que derivam em passos mais ou menos espectaculares.
Mas a essência, essa essência é da festa, da Kizomba (significa festa em quimbundo), do “suja pé”, do “dançar agarradinho de olhos fechados”. Kizomba é por isso síntese aberta, sujeita a múltiplas interpretações. O que os europeus mais gostam é disso, da ligação entre as pessoas, do toque, da sensualidade e da beleza de uma dança com ginga angolana.
Agora os europeus querem voltar a África, a essa essência cultural feita de afectos. Essa busca é imparável, está globalizada, e cada dia que passa mais e mais pessoas se inscrevem nos congressos e nas oficinas de aprendizagem um pouco por todo o lado. Um fenómeno que nasceu em Angola e está a dar que falar em todo o Mundo.
Sangue Novo
Nascido no berço da cultura da dança e da música angolana encontra-se o mestre Petchú (Pedro Vieira Dias Tomás) que, juntamente com um grupo de artistas da sua geração, impulsionou a aprendizagem da Kizomba e a difusão da cultura angolana na diáspora.
Aprendizes como Afrolatin Connection e Albir e Sara, são a prova de que as novas gerações absorveram a informação e adaptaram-na aos tempos modernos, usando constantemente as novas tecnologias e plataformas de divulgação, como o Facebook e o Youtube, para chegarem mais longe, mais depressa e ao maior número de pessoas.
Com influências da salsa, do hip hop, ou de qualquer outro estilo de dança, estas novas gerações de bailarinos e professores de Kizomba vieram dotar esta dança de raiz angolana de uma linguagem mais contemporânea. O que ninguém previu foi que esta nova forma de lidar com a dança, quer na forma como se dança, quer na criação de empatias entre os profissionais e os pupilos, se transformasse num movimento à escala mundial. Afrolatin Connection e Albir e Sara são, de acordo com a sua agenda, onde se podem ver Índia e Austrália no horizonte da Kizomba, aquilo que as novas gerações de “kizombeiros” procuram.
Acompanhe o movimento global da Kizomba através da plataforma Kizomba Nation.