

Arts
Arte em campo minado
Inaugura em Luanda a exposição de fotografia, pintura e instalação Ki Mona Mesu, dos artistas José Silva Pinto e Mário Tendinha.
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Ki Mona Mesu vem mostrar que, depois do flagelo das minas terrestres, o grande perigo em Angola esconde-se na exclusão, discriminação e intolerância da sociedade.
Nos seus périplos pelo país, o fotógrafo José Silva Pinto encontrou na Bomba Alta, na cidade do Huambo, uma oficina de próteses antigas que tinha servido vários mutilados, vítimas da guerra e das minas terrestres, e que chegou a receber o apoio da Princesa Diana de Inglaterra.
Algumas dessas fotografias – que mostram “pernas substitutas” reutilizadas até à exaustão e cujo cansaço se percebe pela forma como estão atadas por pedaços de arame farpado carcomido, pregos, tachas ou ténis velhos – foram publicadas no livro Cá Entre Nós (Tinta da China, 2012), outras ficaram guardadas até que o artista plástico Mário Tendinha as encontrou numa exposição informal na Ilha de Luanda.
Logo ali, entre o “espírito subversivo e provocador” de Tendinha, como lhe chama Silva Pinto, e o fotógrafo da Angola contemporânea, ficou firmado que voltariam ao tema dos horrores da guerra ainda tão visíveis nos corpos de homens, mulheres e crianças angolanas, jovens e velhos, militares e civis.
“Decidimos na altura que seria importante passar a mensagem de que são pessoas iguais a todas as outras e que, apesar da infelicidade de ter perdido um membro ou mais, não deixam de amar, de querer viver, de desejar e têm exactamente os mesmos direitos que qualquer outro angolano, inclusive de trabalhar”, diz à DIVO, José Silva Pinto.
Depois de alguns anos a ser pensada, Ki Mona Mesu – que significa algo parecido a “olhos nos olhos” – inaugura dia 26 de março, pelas 18h30, no Camões – Centro Cultural Português em Luanda, com dez fotografias e dez pinturas combinadas em pares.
Ao olhar a preto e branco realista, cru, perturbador, na estética reconhecível das fotografias de José Silva Pinto, junta-se o olhar colorido, onírico, satírico e, até por vezes, divertido de Mário Tendinha que, a partir da fotografia, constrói uma imagem na tela, desconstruindo a realidade reflectida na primeira e dando lugar a uma obra-irmã.
As obras – foto e pintura – são tão distintas entre si que se completam num equilíbrio surpreendente entre o dramatismo e a violência fotografada versus a suavidade da narrativa pintada.
As histórias de Mário Tendinha têm inspiração na actualidade nacional e internacional. Homenageiam, por exemplo, a Companhia de Dança Contemporânea de Angola, promotora da dança inclusiva; lembram o episódio das bananas atiradas para um campo de futebol evocando a temática do racismo; satirizam a forma como o Ocidente tem lucrado com a venda de armamento para fazer a guerra fora de portas.
Ki Mona Mesu vem mostrar que, na Angola de hoje, o sinal de “atenção: perigo!” está cada vez menos nas minas entretanto desactivadas em grande parte do país, mas existe numa outra dimensão. Atende por nomes como exclusão, marginalização, discriminação, desrespeito, intolerância. Por isso, e como assinala Irene Guerra Marques no texto que abre o catálogo da exposição, “cabe à Arte, como meio e arma de intervenção social e política, denunciar situações que violam os direitos humanos e de cidadania, a que continuamente estão sujeitas, não apenas as vítimas sobreviventes da guerra e das minas, mas todas as pessoas consideradas diferentes na nossa sociedade”.
A mostra, com produção executiva da Mov’art, está patente até dia 10 de Abril e pode ser visitada de 2ª a 6ª feira, entre as 8h30 e as 17h (16h à sexta-feira) no Camões – Centro Cultural Português, na Avenida de Portugal, em Luanda. No final de Abril segue para o Huambo, onde estará em exibição na Mediateca da cidade.